Parece que não há nada em português sobre ele e sobre vários pensadores indianos, então vale a pena fazer algumas apresentações aqui no blog.
Ram Swarup Agarwal nasceu em 1920 no estado de Haryana na Índia e faleceu em 1998. Tomou parte no Movimento Indiano de Independência e teve uma biografia pouco sobressaliente do ponto de vista mundano, nunca se casou e nunca se envolveu com negócios, sendo um praticante regular de Yoga e escritor. Foi um crítico pioneiro do missionarismo cristão, do islamismo, bem como do capitalismo e do comunismo. Suas críticas ao comunismo em especial mereceram reconhecimento de pensadores ocidentais. Um pouco mais de sua biografia pode ser conferida no link abaixo, em inglês, pelo orientalista belga Koenraad Elst:
Ram Swarup Agarwal nasceu em 1920 no estado de Haryana na Índia e faleceu em 1998. Tomou parte no Movimento Indiano de Independência e teve uma biografia pouco sobressaliente do ponto de vista mundano, nunca se casou e nunca se envolveu com negócios, sendo um praticante regular de Yoga e escritor. Foi um crítico pioneiro do missionarismo cristão, do islamismo, bem como do capitalismo e do comunismo. Suas críticas ao comunismo em especial mereceram reconhecimento de pensadores ocidentais. Um pouco mais de sua biografia pode ser conferida no link abaixo, em inglês, pelo orientalista belga Koenraad Elst:
Ram Swarup (1920-98): outline of a biography
Ram Swarup é original, pois é o primeiro pensador vigoroso, com intuição yóguica, de origem indiana, que se dedica a olhar para Ocidente e para o fenômeno moderno criticando-o e usando uma linguagem aceitável e acessível para os ocidentais.
Mas façamos uma breve digressão para ilustrar com dois exemplos a questão da visão ocidental dos hindus, e a reação hindu ao Ocidente.
Alberuni, historiador iraniano muçulmano do século X, em seu clássico sobre a Índia, relata que os hindus acreditavam que:
Alberuni, historiador iraniano muçulmano do século X, em seu clássico sobre a Índia, relata que os hindus acreditavam que:
"Não há outra nação além da sua própria, não há outra raça humana que não a sua, e os outros seres criados carecem de qualquer ciência. Sua soberta é tal que, se alguém contar-lhes que há ciência também no Corasão ou na Pérsia, eles o chamarão de ignorante e mentiroso".O persa cita um brâmane, chamado Varahamira, que abre uma exceção ao afirmar que
“Os gregos, ainda que impuros, merecem ser honrados, pois eles são treinados nas ciências, e portanto são superiores aos outros"
Outro testemunho de um relato ainda mais antigo: a biografia do místico Apolônio de Tiana, contemporâneo de Jesus, e em muitos pontos semelhante ao galileu, foi escrita pelo grego Filostrato no século III, e nela, temos a narrativa da viagem do notável místico por todo o Oriente Médio para se encontrar com os brâmanes na Índia; diz Filostrato:
"O próprio Apolônio descreve o caráter desses sábios e de sua habitação nas montanhas; em um de seus discursos aos Egípcios ele diz, 'Eu vi os brâmanes da Índia vivendo no mundo, sem pertencer a ele, fortificados sem fortificação, sem nada possuir, contudo possuindo a riqueza de todos os homens.'"
E ainda:
"Ele (Apolônio) fez outra pergunta, questionando quem eles consideravam ser; ao que ele (o brâmane) respondeu 'Nós consideramos que somos Deuses.'"
Mas voltemos ao Ram Swarup e à modernidade.
Tudo me leva a crer, conhecendo algo dos modos de pensamento dos antigos, que a atitude que parecia arrogância aos olhos de Alberuni (que, convenhamos, representava o invasor, então não é de espantar que não o abraçassem e acolhessem) -- ou seja, a atitude de dizer que muçulmanos (e depois cristãos, capitalistas e comunistas) não possuíam ciência, se dá principalmente porque entre os referidos brâmanes a ciência suprema era a jñâna, como talvez tenha percebido Apolônio de Tyana. E, de fato, não há muitas indicações de que os invasores tivessem tal ciência, como observava também no início do século XX o francês René Guénon ao comparar as civilizações.
Contudo, a omissão por parte dos orientais custou e custa muito caro. Os hindus, que possuíam uma das maiores culturas dialéticas do pensamento humano, onde diversos pontos de vista eram discutidos segundo as regras do chamado tarka-shastra, se recusaram, talvez subestimando muçulmanos e cristãos, a olhá-los de frente intelectualmente ou levá-los a sério.
Tudo me leva a crer, conhecendo algo dos modos de pensamento dos antigos, que a atitude que parecia arrogância aos olhos de Alberuni (que, convenhamos, representava o invasor, então não é de espantar que não o abraçassem e acolhessem) -- ou seja, a atitude de dizer que muçulmanos (e depois cristãos, capitalistas e comunistas) não possuíam ciência, se dá principalmente porque entre os referidos brâmanes a ciência suprema era a jñâna, como talvez tenha percebido Apolônio de Tyana. E, de fato, não há muitas indicações de que os invasores tivessem tal ciência, como observava também no início do século XX o francês René Guénon ao comparar as civilizações.
Contudo, a omissão por parte dos orientais custou e custa muito caro. Os hindus, que possuíam uma das maiores culturas dialéticas do pensamento humano, onde diversos pontos de vista eram discutidos segundo as regras do chamado tarka-shastra, se recusaram, talvez subestimando muçulmanos e cristãos, a olhá-los de frente intelectualmente ou levá-los a sério.
O seu livro "Hindu View of Christianity and Islam", que será resenhado criticamente na sequência de postagens futuras, surge como talvez uma incipiente reparação desse erro.
O livro foi escrito na fase madura do autor, após afastamento das questões políticas e emergenciais da cultura e independência indiana. O livro não consegue, e não pode, esconder a ferida civilizacional causada pela colonização de quase um milênio, por meio de armas, da Companhia das Índias Orientais, e por últimos da ideologias e da colonização intelectual vinda da academia ocidental. Contudo, a essência do livro está longe de ser mera reação: é um livro firme, de autodefesa, com pontos relevantes para entender o Ocidente e o Oriente para além dos véus do orientalismo.
O livro foi escrito na fase madura do autor, após afastamento das questões políticas e emergenciais da cultura e independência indiana. O livro não consegue, e não pode, esconder a ferida civilizacional causada pela colonização de quase um milênio, por meio de armas, da Companhia das Índias Orientais, e por últimos da ideologias e da colonização intelectual vinda da academia ocidental. Contudo, a essência do livro está longe de ser mera reação: é um livro firme, de autodefesa, com pontos relevantes para entender o Ocidente e o Oriente para além dos véus do orientalismo.
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